terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Instantes de quem se está a afogar

Os últimos segundos de quem se está a afogar
são mais ou menos assim:
a surpresa de não conseguir subir à tona
é substituída imediatamente pela realidade cruel
do que está ocorrendo e que não deseja acreditar.

Não, aquilo não está acontecendo com ele.
Alguém virá salvá-lo
e juntos rirão daqueles momentos apavorantes.
Na próxima festa ele já terá assunto
para prender a atenção dos convidados.

Mas, naquele exacto momento,
a única coisa que ele desejaria prender
e não está conseguindo é a respiração.
E o pior é a falta de oxigénio
que já não o deixa raciocinar com calma e lucidez,
porque o desespero trouxe um elemento novo
naquele momento aterrorizante:
a agonia de ter sugado água salgada pelo nariz.

Não é só o gosto estranho mas também o desconforto
de se ter engasgado com aquela água
que já não lhe permite lembrar
de mentalmente fazer uma oração.

As pessoas que ele mais amava
e que apareciam e desapareciam do seu pensamento,
também já são sombras.
A sua visão começa a escurecer.

Nesse exacto momento ele só pensa em salvar o fio de vida
que ainda lhe resta.
Mas está sem forças.
Uma pergunta martela a sua mente:
- “ Por que fui eu abusar do mar? ”.

Começa a entregar-se e só espera por um milagre.
Tenta gritar mas é inútil.
Ninguém pode ouvir sua voz engasgada com água salgada.
Relaxa, sente a derrota.
Assume que vai morrer.
Escuridão total.
Desconheço o autor.
É dos melhores poemas que conheço,
retrata tão fielmente as emoções que quase
sentimos a agonia de estar na àgua em sofrimento.

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