quinta-feira, 4 de março de 2010

O cão Simba e o seu menino de estimação

Era uma vez...
Numa pequena aldeia perdia neste imenso Alentejo que é nosso.
Nesta aldeia tão singela e caiada de branco como todas as outras, onde a paz reina dia após dia, um dia uma cadela toda ela castanha deu à luz uma grande ninhada de pequenas criaturas. Todavia por desventuras de um destino cruel apenas um dos bebés acabou por conseguir sobreviver. Apenas um.
Houve necessidade de dar a esse pequeno cãozinho castanho uma família que o acolhesse, perfilhasse e lhe desse a felicidade de um lar.
Coube a sorte a um menino de 6 anos a quem os pais quiseram oferecer um amigo de quatro patas, e o menino logo baptizou o novo amigo de Simba!
E aquela dupla a partir daí tornou-se inseparável. Em qualquer sítio naquela pequena povoação estavam juntos, para onde o menino ia o cãozinho acompanhava. Todos os dias de manhã o bicho acompanhava o seu mais que tudo à escola e à porta sentado aguardava a hora de saída para o almoço, de tarde a sequência repetia-se e depois das aulas era hora das brincadeiras, das correrias, da ida ao campo onde o pequeno fedelho com a sua fisga tentava caçar pássaros e o Simba com o rabo para a esquerda e para a direita em movimentos incessantes não parava de latir como sinal do seu contentamento. Bastava estar ao lado do seu dono para se sentir um animal na plenitude da sua felicidade.
Para a criança de nome Afonso era impensável estar muito tempo afastado do seu companheiro canino, nunca prescindia da sua fiel companhia. Foi um crescimento mútuo, uma infância.
Para todos os cachorros existe um sonho, ter um menino de estimação e Simba tinha o seu a quem era devoto e se entregava de pêlo e alma!
E eras vê-los sábados e domingos em passeios pelos campos, livres como 2 aves ao vento, felizes como se fossem crianças toda a vida.
Mas tal não acontece.
E o menino Afonso pouco a pouco foi-se tornando um rapazolas e não tardou muito já tinha o 9º ano concluído e aproximava-se uma terrível mudança na sua vida, pois ao transitar para o 10º ano ter-se-ia que deslocar para a cidade mais próxima que distava quase 100 quilómetros onde iria viver na casa de uma tia.
Até aqui tudo bem, sem dramas nem choradeiras, o pior era a separação do Simba e do Afonso, pois a partir daqui apenas aos fins de semana se poderiam ver, e não seriam todos, pois o Afonso teria que ficar na cidade a estudar e a preparar-se para ter boas notas e entrar no ensino superior.
Para o Simba foi um prenúncio de morte a distância, o pobre cão todos os dias caminhava até à paragem do autocarro e por ele esperava na ânsia de poder ver chegar o seu aldeano imigrado. Em vão, quando já não havia ninguém para sair do autocarro os olhinhos castanhos do canino murchavam e ficavam humedecidos tal era a tristeza naquela pequena criatura.
E foi assim que pouco a pouco o Simba foi desfalecendo por dentro de tanta desmotivação e saudade, motivo que lhe ceifou a energia, e que juntando à velhice o levou à morte.
Quando se fala em animais de estimação muitas vezes cometemos esse erro de prisma, pois são os cães que nos estimam a nós donos como se não houvesse outro bem.
Dinis Gorjão

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