sábado, 31 de janeiro de 2009

Fazer os outros felizes

Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital.
Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões. A sua cama estava junto da única janela do quarto. O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.
Os homens conversavam horas a fio. Falavam das suas mulheres, famílias, das suas casas, dos seus empregos, dos seus aeromodelos, onde tinham passado as férias... E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava, passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto todas as coisas que conseguia ver do lado de fora da janela.
O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a actividade e cor do mundo do lado de fora da janela.
A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes, chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem e uma tênue vista da silhueta da cidade podia ser vislumbrada no horizonte.
Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava as pitorescas cenas. Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia apassar: Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a retratava através de palavras bastante descritivas.
Dias e semanas passaram.
Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida, o homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.
Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo. Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira disse logo que sim e fez a troca. Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira deixou o quarto. Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora. Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela que dava, afinal, para uma parede de tijolo! O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela. A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. Talvez quisesse apenas dar-lhe coragem...
Para reflectir. De autor desconhecido

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nada muda

Sento-me, penso e apercebo-me
De todas as conversas
De todos os momentos
Que passei a teu lado

Bons,maus,úteis ou inúteis
Todos se misturam
no mais fútil dos pensamentos
Num traço de tristeza que se acentua

Levanto-me, acordo
Mas o sentimento continua
Cada vez maior, mais potente
Num acto claro de ironia

Quero me levantar, acordar novamente
Seguir em frente, voltar a amar
Mas, infelizmente, nada muda
Tudo continua a passar ao lado da minha vida
Heloísa Coreixo

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Liberdade

Sinto uma tristeza
Sem fim
Dentro de mim
O meu coração
Bate como um relógio
Sinto um califrio
Dentro de meu ser
Esta dor é tão forte
Que quase me derroba
A minha mente
Desapareceu no infinito
Não sei explicar
Este vazio dentro
Do meu corpo
Como continuar
Gostava de ser uma semente
Para ser transportada pelo vento
Gostava de soltar a minha mente
E deixa-la á deriva por um momento
Sem parte definida
Sem local de chegada
Sem destino predemitado
Queria voar, voar, voar...
Queria sentir, sentir...
Queria apanhar...
Essa liberdade de viver
Ser livre no tempo
Soltar todo o meu ser
Libertar-me das amarras da vida
Ser livre de voar pelo mundo
Ai, como eu queria ser assim
Poder dar fim
A esta dor que queima dentro de mim
Heloísa Coreixo

sábado, 24 de janeiro de 2009

Travessuras sim, mas sem exagero

TRAVESSURAS SIM! MAS SEM EXAGERO!

Vou contar-vos uma história
Que passou pela minha memória
Era eu pequenina...
(Talvez da vossa idade)
Sim, agora já sou velhinha
O que não é nenhuma infelicidade!

Ia eu a dizer
Que quando era pequenina
O que me dava alegria
(Fosse de noite ou de dia)
Era fazer uma travessura
O que me valeu
Uma ou outra descompostura...!

Como estava a contar
Era eu da vossa idade
Não havia dificuldade
Se dava para a brincadeira
Pois, o que é a vida
Se não pudermos dar umas risadas?

E era disso que eu queria falar
Aos meus queridos netinhos
Que me estão a aturar!

É que quando eu era pequenina
Não havia dia
Em que não pregasse uma partida
Fosse ao pai, à mãe ou aos meus quinze irmãos!

E numa dessas alturas
Quando estava com ela fisgada,
(Tinha levado uma descompostura de metro e meio
Há uma semana atrás)
Mal saí do meu castigo
Estava tão irrequieta
Pois imaginem só
O que é estar uma semana
Sem poder fazer maldades!

Ora, como dizia
Não aguentava mais
E ao sair de casa
Vi o meu irmão mais novo
Que ia passear as ovelhas
Sim, como vocês sabem,
Tínhamos uma grande e lindíssima quinta
Para os lados do Mondego!

Contava eu,
Que vi a pobre criança
(A minha próxima vítima)
E tive que arranjar um plano!

Fui falar com o pequeno:
“Queres companhia?
Já não estou de castigo!”
A miniatura de gente
Aceitou muito contente
Mal sabia o que o esperava!

Fomos alegres pelo campo fora
Ora à conversa, ora cantarolando
E com ele fui brincando
Sem que desconfiasse
Que seria nas minhas mãos
Uma outra vítima
Pois pensava ele
Que depois de tal castigo
Era certo que me emendasse!

Então,
Quando chegámos a um sítio com ervinhas
Dissemos às ovelhinhas
Que ali deveriam comer!
Mas qual não foi o espanto do pequeno
Quando eu lhe disse
Que igualmente devia fazer!

Com um sorriso nos lábios
Olhou para mim dizendo:
“Sei que é outra brincadeira
Mas nessa não vou cair,
Pois se a mãe sonha com isto
Não voltarás a sorrir!”

Surgia então uma ameaça!
Parecia que a criança
Tinha aprendido comigo!
Mas seria então possível
Se era ele a vítima
E eu a má da fita?

Foi a partir daí
Que eu decidi
Nunca mais pregar partidas!
Aprendi uma lição:
Nunca devemos ser tão maus
Ao ponto de parecer
Que não temos coração!

Assim,
Ao fim do dia
Voltámos para casa.
Ninguém saberia
O que se tinha passado
Foi o combinado!

Por isso,
Meus netinhos
É preciso que percebam
Que não é bom ser-se mau
(Se é que me faço entender!)
Vamos tentar ser bonzinhos
E assim seremos mais felizes
Do que com as travessuras
Que, lá por terem esse nome,
Também são saudáveis,
Quando são feitas com peso e medida!

E com esta história
Quero que me prometam:
TRAVESSURAS, SIM!
MAS SEM EXAGERO!
Desconheço o autor

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A graça e a ilusão

Lábios que não beijei
Agora lhes beijo,
e agradeço a sobrevivência do sonho,
a sobrevivência dos sons, dos ruídos.

A hipótese de ser libidinoso e bom.
Risos mordidos, escrachados...
O escândalo na rua, na calçada,
atrás do poste, do muro pichado nas bocas,
com bocas coladas.
Lábios que não beijei
Agora lhes beijo, e agradeço o guia, mil vezes,
refeito pelas mãos velozes.
Dedos doidos, inquietos, exploradores;
A permanente expedição pela carne.
A idéia de ferro e fogoem nossos tecidos desalinhados.
A linha rompida, rasgada...
A invasão do privado.
Os músculos impacientes,
a eminente explosão dos botões
e a incontinência dos zíperes,
na busca do mais fundo...
E vem à tona bocas
de pernas para o ar em levitação.
Lábios que não beijei
Agora lhes beijo, e agradeço o aroma de
maçã, cereja,
outra fruta...
Gosto de amor condensado, intenso.
A cisma de apalpar uma escultura,
bolinar...
Sugar língua clandestina
E, por fim, desvendar uma identidade pelo tato.
Lábios que não beijei
Agora lhes beijo, e agradeço a graça e a ilusão de bocas
que se bifurcam como nos jardins de Alá,
e do além.
A falta da húmida saliva,bactérias,
o atordoado gesto sumário,
a extensão do que não houve...
O estado grave, o coma e a cama que não chegamos.
Lábios que não beijei
Beijo-lhes agora, de joelhos,
e agradeço a distância sensata que nos manteve.
O que fomos depois
E nossos lábios desunidos jamais souberam
O que somos,
e a certeza de quilômetros rodados em outras bocas.
O beijo partido...
O que me coube nos lábios,
a cama que poderia ter sido,
poderia ter dado,
poderia ser, mais não foi.
E não houve...E nem foi ouvido...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Teu beijo

Teu beijo é doce,
charmoso,
gostoso,
ternamente cheio de amor.
Inesquecível,
eu sei!
Dele tenho lembrança,
dele tenho saudade,
dele tenho o sabor
para todos os minutos e horas da vida,
em toda a eternidade,
no tempo e no contratempo.
Teu beijo
é terno e eterno,
sincero,
suave,
leal,
doce,
charmoso,
gostoso,
um beijo de amor !
Wanderlino Arruda®

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.


Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não
Manuel Alegre

domingo, 18 de janeiro de 2009

Beijos

Beijo na face
Pede-se e dá-se: Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo: Vá!
Um beijo é culpa
Que se desculpa: Dá!
A borboleta
Beija a violeta
Vá!
Um beijo é graça
Que a mais não passa: Dá?
Teme que a tente?
É inocente...Vá!
Guardo segredo,
Não tenha medo...Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,Dê!
Como ele é doce!
Como ele trouxe,
Flor, Paz a meu seio!
Saciar-me veio, Amor!
Saciar-me? Louco...
Um é tão pouco,
Flor!
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
Amor!
Talvez te leve
O vento em breve,
Flor!
A vida foge,
A vida é hoje
Amor!
Guardo segredo,
Não tenhas medo,
Pois!
Um mais na face,
E a mais não passe!
Dois...
Oh! dois?
Piedade!
Coisas tão boas...Vês?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três!
Três é a conta
Certinha e justa...Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta!
Três!
Três, sim: não cuides
Que te desgraças: Vês?
Três são as Graças,
Três as virtudes;
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecha,Vês?
E não o deixam
Manchar,
são... quantas?
Três!
João de Deus

sábado, 17 de janeiro de 2009

Beijos

Beijos passeando pelo corpo
São beijos de desejo,
Começam e seguem,
sem pejo.

Beijos de amor,
Daqueles que dão calor...
E depois... Aquele torpor...

Beijos enamorados...
Beijos demorados...
Beijos... Bem beijados

Beijo na mão...
Doce sensação...
Suave emoção...

Beijos do calor da paixão...
Despertam toda nossa emoção,
São aqueles que dão tesão...
Desconheço o autor

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

o mar‏

É em ti, nos momentos desagradáveis
Onde afogo as minhas mágoas,
Onde deposito as minhas lágrimas,
Onde guardo segredos invejáveis.

És tu, aquele amigo disponível
Para ouvir os meus desabafos...
Ditas os teus experientes conselhos
No silencio do teu ondular incrivel.

Na tua enorme profundeza
Se esconde os mais belos mistérios
De toda a Natureza.

Navegar nos teus vastos impérios
Todo o meu corpo agoniza
E torna-se num desejo sem critérios
Heloísa Coreixo

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Rimance

Meia-noite, meia-noite,
Da velha torre caía,
Em seu camarim real
A bela Ausenda cosia.

Tela que estava cosendo
De fina prata parecia;
Junto dela, sua mãe
Em cama de ouro dormia...

Longo mantinho de lustro
Seu esbelto corpo envolvia,
Anel que tinha no dedo
Frechas de cor despedia.

Passos na escada se ouviram,
Passos de alguém que subia,
Ouvindo tal, a Princesa
A abrir a porta corria.

Ouvindo o gemer da porta,
A mãe os olhos abria,
Abriu-os mas não viu nada,
Que o candil já se morria.

— Quem é que anda abrindo portas,
Filha, aqui ao pé de mim?
— Senhora mãe, é o vento
Que abre as portas do jardim.
Segura com tal resposta,
Logo a mãe adormecia;
Vendo-a dormir, Dona Ausenda
À porta se dirigia.
A um gesto da bela Ausenda,
Um cavaleiro aparecia,
De cochonilha mimosa
Era o gibão que vestia.
Em belo cinto bordado
Punhal de prata trazia;
Nos braços do cavaleiro
Dona Ausenda se metia.
Ao barulho dos abraços,
A mãe os olhos abria,
Abriu-os mas não viu nada,
Que o candil já se morria.
— Quem é que está aos abraços,
Filha, aqui ao pé de mim?
— Senhora mãe, são as árvores
Que se abraçam no jardim.
Segura com tal resposta
,Logo a mãe adormecia;
Vendo-a a dormir, Dona Ausenda
Ao seu amado sorria,
Sorria e nos braços dele,
Nos seus braços se metia;
Forte corrente de beijos
Aquelas bocas prendia.
Ao barulho desses beijos,
A mãe os olhos abria,
Abriu-os mas não viu nada,
Que o candil já se morria.
— Quem é que está dando beijos,
Filha, aqui ao pé de mim?
— Não são beijos, são as fontes,
São as fontes do jardim.
Segura com tal resposta,
Logo a mãe adormecia...
Vendo-a a dormir, Dona Ausenda
Ao seu amado sorria,
Sorria e nos braços dele,
Nos seus braços se metia;
Era de seda lavrada
O corpete que a cingia.
Contra o peito, o cavaleiro
Contra o peito a comprimia,
Com tanta força que a seda
Do seu corpete rangia,
Com esse ranger de seda,
A mãe os olhos abria,
Abriu-os mas não viu nada,
Que o candil já se morria.
— Quem está machucando sedas,
Filha, aqui ao pé de mim?
— É o vento que arrasta folhas,
Folhas secas no jardim.
Segura com tal resposta,
Logo a mãe adormecia;
Vendo-a dormir, Dona Ausenda
Ao seu amado sorria,
Sorria e nos braços dele,
Nos seus braços se metia,
E aos beijos do seu amado
Seus lindos seios abria.
O cavaleiro os beijava
De tal arte que par'cia
Que os não estava beijando,
Antes que neles mordia.
Com esse morder de seios,
A mãe os olhos abria
Abriu-os mas não viu nada,
Que o candil já se morria.
— Quem anda mordendo seios,
Filha, aqui ao pé de mim?
— É o jardineiro que morde
Frutas verdes no jardim.
Eugénio de Andrade

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Beija-me

Beija-me!
Beija-me como eu quero
Muito...Muito...Mas
Do teu jeito
Com os lábios do teu amor
Com o néctar adocicado
Pelo sabor do meu céu
Beijo que não sei definir
Direito...
Se é o teu jeito
Que me enlouquece
Que me entontece
Beijo maroto
Safado
Assanhado
Molhado
Espalhado...
Busco senti-lo
De corpo e alma
Mas do jeito que
Me acalma...
Morrendo em minha boca
Qual uva madura
Colhida no pé do desejo
Em cachos deslizantes
Pelo meu corpo suado
Te amando...E beijando
Colhendo...mordendo
Meus lábios primeiro
Que sabe beijar!
Espalhando desejo
Com teus beijos...
E com esse teu jeito
Doído de amar!
Thais Arrighi

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Instantes de quem se está a afogar

Os últimos segundos de quem se está a afogar
são mais ou menos assim:
a surpresa de não conseguir subir à tona
é substituída imediatamente pela realidade cruel
do que está ocorrendo e que não deseja acreditar.

Não, aquilo não está acontecendo com ele.
Alguém virá salvá-lo
e juntos rirão daqueles momentos apavorantes.
Na próxima festa ele já terá assunto
para prender a atenção dos convidados.

Mas, naquele exacto momento,
a única coisa que ele desejaria prender
e não está conseguindo é a respiração.
E o pior é a falta de oxigénio
que já não o deixa raciocinar com calma e lucidez,
porque o desespero trouxe um elemento novo
naquele momento aterrorizante:
a agonia de ter sugado água salgada pelo nariz.

Não é só o gosto estranho mas também o desconforto
de se ter engasgado com aquela água
que já não lhe permite lembrar
de mentalmente fazer uma oração.

As pessoas que ele mais amava
e que apareciam e desapareciam do seu pensamento,
também já são sombras.
A sua visão começa a escurecer.

Nesse exacto momento ele só pensa em salvar o fio de vida
que ainda lhe resta.
Mas está sem forças.
Uma pergunta martela a sua mente:
- “ Por que fui eu abusar do mar? ”.

Começa a entregar-se e só espera por um milagre.
Tenta gritar mas é inútil.
Ninguém pode ouvir sua voz engasgada com água salgada.
Relaxa, sente a derrota.
Assume que vai morrer.
Escuridão total.
Desconheço o autor.
É dos melhores poemas que conheço,
retrata tão fielmente as emoções que quase
sentimos a agonia de estar na àgua em sofrimento.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Morre quem

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo...
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece...
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um remoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

domingo, 11 de janeiro de 2009

Tu

Tu
enlouqueces-me
maravilhas-me
atrapalhas-me
apaixonas-me
cegas-me
confundes-me.
Tu inspiras-me.
Tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu .....
Quero tanto de ti e tão próximo que anseio que fosses o ar,
o chão, as paredes, tudo.
Que tudo o que tocasse fossem os teus braços.
Que tudo o que sentisse
fossem os teus lábios.
Como quando fecho os olhos e tudo o que não vejo és tu.
Como quando não durmo e tudo o que sonho és tu.
Contigo não consigo respirar.
Sem ti não consigo viver.
Quero estar tão dentro de ti que nem a luz do dia exista para mim.
Quero abraçar-te tanto que todo o mundo
colapse e desapareça num pequeno ponto entre os meus braços.
Toca-me com as tuas mãos.
Faz-me desaparecer com a tua pele.
Sufoca-me na tua língua.
Arrasta-me pelo ar com o teu perfume.
Mata-me de vez.
TU se fosses chuva, do céu só cairiam pérolas ...
E até o chão gritaria de prazer.

Maria Teresa Horta

sábado, 10 de janeiro de 2009

Bater do coração

Segurei-te a mão,
estava quente e tremia,
senti que o teu coração batia em união com o meu,
sonhando com os afagos da noite.
E os olhos, nos olhos presos,
derramando ternura, ansiedade,
grávidos de promessas, juravam a eternidade aqui na terra.
Não te quero deixar, nunca,
e se longe o meu corpo estiver,
por via de negro destino,
a memória de ti, cristalina,
na minha mente fica perene
Desconheço o autor

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sonho

Foi naquela noite de inverno,
que contigo sonhei
O meu amor perdido,
aquele por quem eu tanto desesperei
Fiquei a perceber
que o amor não tem sentido
pois por ti tanto lutei
para acabar por te perder.
Onde errei eu nao sei
Mas sei que cada dia sem te ter
Da-me vontade de morrer,
Pois a tua mera visão
Da-me a volta a cabeça
E faz parar o meu coração.
O meu coração ficou destroçado
Pois percebeu que tinha sido enganado
Pela mulher que eu considerava a + bela
Mulher essa
Que nem o Da Vinci reproduziu na tela
Depois disto tudo ainda me vieste culpar
E chegas-te a dizer que eu
Não te sabia amar.
Foi nesse momento
Que fiquei chocada
Pois foi ai que percebi
Que tu nunca me tinhas amado
Se tu me pedisses
Eu para ti voltava
E sabes bem que por ti
Eu tudo mudava
Mas não podia viver nesse sufoco
Pois viver assim
Faria de mim uma louca
Mas mais louca do que eu pelo teu amor
Não pode haver,
pois por ti eu faria tudo
Apenas para sentir o teu calor.
Voltar a ter aquele sentimento
Que com o passar do tempo
Foi caindo em esquecimento.
Com a madrugada a chegar
E eu ainda a sonhar
Com o amor da minha vida
Amor esse que deixou ferida.
Agora que a manha chegou
Terei de me levantar
Para a escola tenho de ir
Para com amigos tambem estar
Mas não sem antes me despedir
Do amor que me fez sonhar.
Heloísa Coreixo

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Pensamento 13

"Se conseguir que as pessoas se surpreendam com elas próprias, será o ideal; essa será a minha luta, que é cada um ter a máxima sublimação do seu rendimento"

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Quando se ama alguém

Quando se ama alguém tem-se sempre tempo para essa pessoa.
E se ela não vem ter connosco, nós esperamos.
O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar.
A vida transforma-se numa estação de comboios
e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar.
O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo,
a organizar tudo para que ele seja possível.
É mais fácil esperar do que desistir.
É mais fácil desejar do que esquecer.
É mais fácil sonhar do que perder.
E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver."
Margarida Rebelo Pinto - Diário da tua ausência

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Eu quero voltar

Tu eras aquela
que mesmo já não sendo minha
continuavas a ser
uma paixão platónica.

A notícia que estavas
nos braços de outro
quase me matou de cólera
e trouxe-me à lembrança
a forma como te
deixei escapar entre
os meus dedos.
Burrice minha
orgulho a mais
nitidão a menos
do que seria melhor
para mim
e para ti.

Tu seguiste com
a tua vida
e eu fiquei perdido
lá atrás.
Embrunhado em
lembranças que não
passam com
um abrir e fechar
de mão.

Eu quero voltar.
Sei que é difícil,
mas essa esperança
dar-me-à forças
e fará com que
tudo me parecerá
possível.
Dinis Gorjão - 2004

Pensamento 12

“Há momentos na vida em que se devia calar e deixar que o silêncio falasse ao coração, pois há sentimentos que a linguagem não expressa e emoções que as palavras não sabem traduzir”

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Palavras

"Há palavras que nos beijam,
Como se tivessem boca,
Palavras de Amor, de Esperança,
De imenso Amor, de Esperança louca."
Alexandre O'Neill

domingo, 4 de janeiro de 2009

Pensamento 11

"Quero fazer o elogio do amor puro...
Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade.
Já ninguém quer viver um amor impossível.
Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de pratica.
Porque dá jeito.
Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito.
Porque faz sentido.
Porque é mais barato, por causa da casa.
Por causa da cama.
Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado.
Os amantes tornaram-se sócios.
Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-socio-bio-ecologica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível.
O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "ta bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananoides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.
Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores.
O amor fechou a loja.
Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. "
Miguel Esteves Cardoso

sábado, 3 de janeiro de 2009

Pensamentos 10

"Se tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer a verdade, teria ouvido verdades que teimava em dizer brincando."
Li esta frase num daqueles powerpoints que nos entopem o mail, com música bonita e apelando ao coração para nos tornarmos melhor pessoas. Devo dizer que não os vejo todos até ao fim, porque alguns são muito parecidos.
Esta frase no entanto saltou-me à vista, porque tantas são as vezes que a brincar e sem intenção a verdade sai como a areia que nos escapa entre os dedos.

Pensamentos 9

As verdadeiras verdades do amor
Depois de algum tempo, aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mao e acorrentar uma alma. E aprendes que amar nao significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança e começas a aprender que beijos nao sao contratos, presentes, nao sao promessas. E nao importa o quao boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas de perdoa-la por isso. Aprendes que ao falar, podes aliviar dores emocionais. Descobres que se levam anos para construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependeras pelo resto da vida. Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescem mesmo a longa distancia. E que o que importa nao e o que tu tens na vida, mas quem tens na vida. Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, sao tiradas de ti muito depressa; por isso, devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a ultima vez que as vemos. Aprendes que a paciencia requer muita pratica. Aprendes que quando estas com raiva tens o direito de ter raiva, mas isso nao te da o direito de seres cruel. Aprendes que nem sempre e suficiente seres perdoado por alguem. Algumas vezes tens de aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu seras, em algum momento, condenado. Aprendes que nao importa em quantos pedaços o teu coraçao foi partido, o mundo nao para para que o concertes, e, finalmente aprendes que o tempo nao e algo que possa voltar para tras. Portanto planta o teu jardim e decora a tua alma, ao inves de esperares que alguem te traga flores e percebes que realmente podes suportar, que realmente es forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que nao se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida, e so nos faz perder o bem que poderiamos conquistar, o medo de tentar...verdade?
Desconheço o autor

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Foi o fim

Julguei que tudo
estava acabado
entre nós.
Colocaste um
ponto final
onde eu pensei
que ainda existiam reticências.

Mataste a minha ilusão
de um amor real
e possível.
Agora olho para trás
e recordo o início
e toda aquela
felicidade transbordante
na nossas faces.

Era ums história bonita
que tinha tudo
mas mesmo tudo
para dar certo,
mas não deu.

Na vida há
oportunidades e momentos
choros e lamentos
fases boas e más.
O nosso cruzamento
nesta encarnação
talvez já tenha passado
e eu perdi
o meu tempo de entrada
como quem perde
um comboio...
que não volta.

Agora tento encontrar
pedaços teus
em todos os traços femininos
mas ninguém é igual a ti
nem nada voltará a ser igual.
Rasgar um tecido
e cozê-lo deixa uma marca,
e tu deixaste a tua.

Apelo ao tempo
que traga
uma nova aragem
uma nova roupagem
e me mude
me transfigure
me abra de novo
ao mundo.

Não será fácil
mas eu acredito
na paixão e no amor
e acredito em mim
voltarei a entregar-me
de forma intensa
e aí
voltarei a viver.
Dinis Gorjão - 2004